Macumba Mal Feita

Matérias - outubro de 2017

A administradora Lilian Dias percebeu a tragédia e documentou em vídeo pelo seu celular. O empresário e surfista Rico de Souza viu pelo menos 8 vezes o calçadão ruir. Moradores e pescadores da região já previam tamanha tragédia. Só a Prefeitura e os engenheiros contratados para a construção do calçadão da Praia da Macumba não. Assim como aconteceu na ciclovia Tim Maia o óbvio não foi respeitado, a natureza. A ressaca que ruiu uma plataforma inteira de concreto vitimando duas pessoas inocentes em São Conrado, no Recreio, o que era um cartão postal virou um monte de escombros que desabou a olhos vistos dia a dia numa velocidade impressionante em pouco mais de um mês.

COMEÇOU  ASSIM HÁ 10 ANOS


Desde a primeira queda em meados de setembro até a destruição de quase um quilômetro de orla, os órgãos públicos demoraram a agir e tudo foi engolido pelo mar. Não foi nessa administração que foi construído o calçadão mas poderia ter evitado tamanhos prejuízos, ou pelo menos , minimizado. Quando a frequentadora Lilian percebeu umas pedras estranhas coladas na Pedra da Macumba já causou-lhe curiosidade. Em relato ao Globo disse que em seguida apareceu um buraco no meio da calçada como se fosse um sumidouro. Em seguida, para espanto dela parte da calçada havia desaparecido. E por aí a gente já sabe o desfecho.
A água levou o sonho do taxista Carlos Roberto Baptista que largou a praça para trabalhar tranquilamente em frente ao mar, ganhando o suficiente para sobreviver, mas apesar dos apelos às autoridades para salvar seu negócio o quiosque foi engolido pela areia.
Junto a angústia de Carlos, dezenas de moradores viram dia após dia o mar chegar perto de suas casas apesar da Defesa Civil alegar que não corriam perigo ou alegar que não foi acionada para realizar inspeção se balizando no artigo 5º da Constituição que proíbe acesso às propriedades particulares sem autorização prévia dos moradores, assim como alegou o coordenador técnico Luís André Moreira. De fato, desde que o mar começou a pedir de volta o que sempre foi seu de direito, moradores da rua AW ou Paulo Tapajós foram vendo o mar avançar. No RJ TV, o síndico do edifício ‘Sobre as Ondas’ e médico Carlos Alberto do Val pediu incansavelmente uma ação emergencial que só veio um mês depois, após a Prefeitura anunciar sob pressão pública e de vereadores, além de associação de moradores gritarem por socorro. Secretários foram trocados, superintendentes regionais idem, prefeito em Dubai, e a advogada Cristiane Fernandes que comprou uma unidade em 2011 decidiu tirar sua mãe do local antes que a onda batesse dentro da sua cozinha. Aliás, no número 780, quem apareceu foi o banheiro que ficava colado ao muro. Caiu o muro, apareceu a pia, ficando só o vaso sanitário para desespero da moradora que alugava por temporada. Com a chegada da verba de R$ 14, 5 milhões após aprovação na Câmara dos Vereadores, por 120 dias ou mais, ali ficará um canteiro de obras, que antes foi anunciado como obra emergencial mas o prefeito Marcelo Crivella informou ser definitiva. Muitos duvidam. As obras custaram aos cofres públicos R$ 30 milhões. O arquiteto e urbanista Canagé Vilhena em entrevista à CBN disse que na época da execução participava da assessoria em 2005 – junto com engenheiros do órgão e produziram relatório com a denúncia para que fossem tomadas providências e em 2006 já indicavam possíveis colapsos. Informou também que nesse relatório tinham que ouvir a Serla que realizava levantamento de dados que permitia a dragagem do canal provocando a movimentação das marés e deveria dragar o canal por causa dessa ação. E de fato basta subir a Pedra Dona Maria conhecida como Pedra da Macumba para verificar que a outra parte da praia está intacta. Portanto, dá para concluir que somente ali sofreu a devastação isso porque algo foi planejado errado.

O fechamento do canal Marapendi multiplicou a faixa de areia e que impede a troca de areia entre mar e canal. Ali, só ficou a draga, que enferrujada só serve como sucata  e virou atração mar e canal. Ali, só ficou a draga, que enferrujada só serve como sucata  e virou atração   Em São Conrado talvez a pressa em entregar as obras em tempo recorde, o simples fato de ignorar quem vive na região, ou mesmo incompetência dos engenheiros que ignoraram a ressaca ou não fizeram um estudo mais minucioso do local, causou mortes que poderiam ter sido evitadas. Na Pedra da Macumba, virou uma arquibancada da tragédia onde diariamente as pessoas a escalam para assistir ao horror de destruição e escombros que graças a deus não trouxe vítimas fatais.  Um estudo encomendado pela prefeitura ao Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa em Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Coppe/UFRJ) mostrou que desde 2005 havia necessidade de executar o reforço estrutural do muro da orla da Praia da Macumba. Inicialmente, a solução seria o estanque do calçadão, contudo, com o avanço da erosão, técnicos da prefeitura avaliaram que a alternativa mais viável era instalar entroncamento sintético (bolsas preenchidas de concreto) na frente e atrás do muro em questão, protegendo, assim, as construções que estão no raio monitorado pela Defesa Civil.  A  presidente da Associação de Moradores do Recreio dos Bandeirantes(AMOR), Simone Kopezynski cobrou das autoridades uma medida definitiva para acabar com o desmoronamento do calçadão e lembrou dos estudos de 2005: “Estamos aliviados com o início das obras de contenção, mas vamos lutar por uma solução definitiva. A obra que fizeram aqui foi um crime ambiental, desmoronou sete vezes. Os moradores querem voltar a ter tranquilidade e não mais perder noites de sono com o avanço do mar”, informou dia 26 passado  e realizou um encontro dos moradores com o engenheiro Paulo César Rosman, da Coppe-UFRJ que há 17 anos criou um projeto ignorado por várias administrações.  Nele previa uma proposta de quebra-mar que impediria o deslocamento da areia por fatores como a ação dos ventos e das marés. Esse projeto voltou a tona e passou a ser avaliado novamente e pode ser, sim, uma solução definitiva e a faixa de areia voltar a ter comprimento normal.


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