O diretor Rian Johnson, não se apega a nada estabelecido pelo estilo de O Despertar da Força. A velocidade com que muda de núcleo, apresenta novos rostos e resgata as histórias da trilogia original em nada se assemelham ao trabalho de J.J. Abrams. E ao mesmo tempo que distorce expectativas, o cineasta tem a sensibilidade necessária para lidar com os personagens antigos sem torná-los fan services gratuitos. Ainda que se estenda em alguns momentos, Os Últimos Jedi respeita o lugar e a importância da série na mesma medida que entende a necessidade de evoluí-la. É a devoção sem receio, uma ousadia consciente. Uma combinação que mantém a série no papel de vanguarda estabelecido quando a saga Skywalker se iniciou em 1977 com George LucasAssim como os outros capítulos da série, o humor atrapalhado dos robôs e a caricatura do totalitarismo estão bem presentes. Mesmo com o tom rubro-negro da fotografia e a pegada soturna da trilha sonora de John Williams, ainda existe o sentimento de aventura espalhado pelo filme. O que fortalece essa impressão são as criaturas espalhadas pela galáxia, a falta de vergonha em fazer piadas no meio da tensão é a realização de que Star Wars possui uma identidade marcada também pela comédia. Ao mesmo tempo, somente O Império Contra-Ataca tem reviravoltas e momentos dramáticos como Os Últimos Jedi. A forma como Jonhson apresenta essas mudanças é construída por uma câmera acelerada, diálogos rápidos e dois atores totalmente entregues aos personagens. A inocência de Rey se esvai aos poucos dos olhos de Daisy Ridley, enquanto a fúria de Kylo cresce gradativamente no rosto de Adam Driver.
O confronto militar da guerra no espaço é onde o elenco de apoio se destaca. O roteiro reúne quase todos os personagens em um só núcleo, mas os faz passar por missões diferentes para salvar a Resistência. Nesses momentos, a divisão da atenção prejudica a condução do segundo ato, que foca a ação em Finn, Poe e Rose. Há tempo de tela suficiente para todos os personagens se apresentarem, mostrarem suas motivações, mas pouco se fala sobre a situação da galáxia – é como se existisse somente uma dúzia de pessoas preocupadas ou prejudicadas com os feitos da Primeira Ordem. Assim como O Despertar da Força, Os Últimos Jedi se importa muito mais com seus personagens do que com o contexto no qual eles estão inseridos.
O lado escuro da coisa toda também vai bastante bem: Kylo Ren (Adam Driver)se faz bem presente com General Hux (Domhnall Gleeson) ganhando espaço e maior do que no antecessor e o Supremo Líder Snoke (Andy Serkis) aparece de carne e osso.
Como já é de se imaginar, levando em conta o final de “O Despertar da Força”, Luke Skywalker (Mark Hamill) finalmente ganha seu merecido espaço na nova trilogia e tem, obviamente, uma importância enorme no desenrolar da trama. A general (ou princesa, para quem preferir) Leia (Carrie Fisher) está ainda mais majestosa, sábia e maternal em cenas que vão encher os olhos d’água dos mais emocionados, especialmente pela triste partida prematura da adorada Fisher no fim do ano passado.