Previdência Natural = Trabalho + Poupança + (Filhos+Amor)

Matérias - Novos Rumos - dezembro de 2017

Não sei de onde tiram a ideia fantasiosa de que o Estado (vulgo “governo”) deveria bancar a aposentadoria das pessoas de qualquer maneira. Pagar aposentadoria a alguém sem a correta contrapartida econômica é antinatural e as consequências são duas: ou outras pessoas irão pagar a diferença ou o “Governo” precisará emitir moeda, o que resultaria em aumento da inflação. Esse último recurso precisa ser defenestrado pois todos já conhecemos os efeitos desastrosos da inflação no bolso dos mais pobres.

Querer que outra pessoa pague pelas contas de um estranho também não é justo, portanto, é preciso avaliar de maneira simples, clara e direta o assunto ´aposentadoria´:

1 – Comecemos pelas contas: digamos que um profissional chamado Alguém trabalhe por 35 anos, ganhando R$ 10 mil por mês, em média. Há um desconto pequeno direto no contracheque do Alguém, porém a empresa onde trabalha recolhe no mínimo 20% (*) do valor do salário ao INSS. Logo, desconsiderando juros e a flutuação do poder de compra da moeda, o total recolhido em nome do Alguém por 35 anos será em torno de  R$840.000 = R$10.000 x 20% x 12 x 35. A primeira avaliação a se fazer é que, se Alguém quiser receber uma aposentadoria dos mesmos R$10.000 mensais, o total recebido daria para apenas 84 meses, ou seja, 840.000/10.000.

84 meses equivalem a apenas 7 anos (84/12). Portanto, se Alguém trabalhou dos 20 aos 55 produziu o equivalente para “receber de volta” apenas até os 62 anos. Se viver até os 80, quem pagará os outros 18 anos, ou seja, mais de R$2 milhões de reais? (R$2.160mil = 18 x 12 x 10.000)

2 – Mas, aposentadoria não é poupança. O governo não guarda os valores que são recolhidos de Alguém em uma conta numerada. É tudo um grande e desequilibrado fluxo contínuo de caixa onde quem está trabalhando recolhe sob certas regras e o governo repassa a outros que já se aposentaram sob outras regras. Espera-se que a parte que trabalha e contribui com seus impostos seja significativamente maior que a que recebe, pois os primeiros pagam uma fração e os que recebem levam uma espécie de “integral”. Exemplo: se Alguém recebe R$10.000 de aposentadoria precisa que 51 indivíduos que ganham salário mínimo contribuam para seu recebimento ($979 x 20% x 51 = $9.996)

Qual, então, a solução mais justa? A natureza nos dá a resposta. Desde o início dos tempos, quando ainda nem havia sido inventada a escrita, a única solução para sobreviver na velhice era ter vários filhos que pudessem cuidar do plantio e dos animais de criação. Simples assim. Não existia plano de previdência ou governo para garantir nada. Ou o sujeito tinha filhos e os criava de forma apropriada para que não os abandonasse na velhice, ou no primeiro momento em que não tivesse mais energia para plantar e colher ele morria de fome. Essa forma de cuidar da vida existiu há até algumas poucas gerações atrás.

Atualmente a solução justa me parece exatamente a mesma. Seja rico ou seja pobre, devemos trabalhar com afinco até enquanto nos houver energia, poupar o máximo possível e ter filhos, naturais ou adotados (inclusive sobrinhos), criando-os muito bem, com valores, princípios, educação e muito amor. A quantidade sugerida de filhos? No mínimo dois.

É verdade que criar filhos aumenta o esforço necessário do Alguém para alimentá-los, vesti-los e educá-los, mas tão logo entrem no mercado de trabalho tais despesas se reduzirão e o que gastou lhe parecerá justamente como investimento. Dessa forma, as dificuldades econômicas do futuro serão atenuadas pela potencial ajuda financeira dos filhos e ainda poderá contar com o seu apoio emocional.

Se o Alguém conseguir fazer poupança que lhe permita parar de trabalhar sem a ajuda de mais ninguém, melhor ainda, mas continuará desejando e precisando de conforto emocional de filhos, netos etc.

A foto dessa simpática vovó ilustra bem o que estou dizendo. Algum filho ou neto dela teria coragem de deixá-la sem recursos econômicos para viver e ainda sem afetuosos beijos, telefonemas, carinhos e abraços? Acho muito difícil se ela tiver lhes dado amor incondicional na criação, embora saibamos que nem sempre os mais novos cuidem atenciosamente dos mais velhos na família. O ponto principal aqui é que deixar de desenvolver uma família é definitivamente eliminar qualquer chance desse planejamento dar certo.

Logo, é razoável imaginar que a sociedade deva tratar como exceção apenas aqueles casos que, somente por uma justa e muito forte razão, não tenham conseguido atingir o equilíbrio proposto nessa conceituação.

P.S. Quanto ao futuro do planeta, atualmente já existe o problema de encolhimento/envelhecimento da população em países do primeiro mundo, como Alemanha e Japão. Outro aspecto é que haverá também um momento onde a tecnologia dispensará essa fórmula de prole expandida, inclusive alterando a forma como a economia funciona. Mas toda essa parte da conversa fica para outro dia.

(*) Alguns técnicos alegam que o recolhimento do Cofins deve ser acrescentado na conta dos valores recolhidos. A base de cálculo do Cofins é o faturamento, e não a folha de pagamentos. Se tivermos que considerar que os tributos além dos previstos e medidos pelo empregador na conta de cada trabalhador devemos acrescentar os recolhimentos e retenções com IR Fonte, PIS e outros tributos de natureza e incidência semelhante ao INSS e COFINS. Seria quase o mesmo que o governo ter de alocar tudo o que arrecada apenas para pagar aposentados. Seja como for, a conta dos “anos de cobertura” são calculados mediante a alíquota atribuível multiplicado pelos anos de trabalho. 20% por 35 anos cobrem 7 anos (35×20%); 40% por 35 anos cobrem 14 anos, e assim por diante. Os valores arrecadados e pagos são sempre assimétricos, a não ser que se contribua com 100% pelo mesmo número de anos de expectativa de vida, o que em termos práticos é impossível.


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